terça-feira, 24 de julho de 2012

Casca (25/03/2011)

A verdade é que ninguém tem o direito de posse sobre outro alguém. Quando percebemos isso a dor pode se tornar grande, ainda mais quando nos sentimos seguros em relação aos laços que temos. Um grande amor, uma paixão de verão, de iguais intensidades, com tantas diferentes responsabilidades. Sempre feitos um para o outro, até que o primeiro sinal de desenlace surja na pele imatura do sentimento puro. É só uma questão de tempo para que um sinal se intensifique, e então percebemos que as marcas deixadas nos mostram que criamos grande cicatrizes.

O que dói mais no momento em que percebemos que o outro alguém está tentado à liberdade? Talvez a percepção de que este, em breve, pode não mais residir em seus domínios, em seus encantos. Aquele corpo, aquela alma, que poderá ser experimentada por tantos outros, que poderá proporcionar o conforto que era só seu até então... É uma dor incessante, e dela retiramos as penas negras que caem com o tique-taque do relógio. Das lascivas mutilações, aquela que perdura no ápice do sofrimento é ninguém menos do que a indiferença. A indiferença da sua existência, a falta das palavras compreensivas, do toque suave que lhe fazia esquecer que o mundo lá fora batia à sua porta.

Talvez seu único pecado fosse não saber amar. A inexperiência da vida pode proporcionar diversas surpresas, nem sempre tão boas, nem sempre tão úteis. Os amores perduram quando a simpatia vai além da casca, quando está intrínseca ao ser, sendo ele a simpatia e a simpatia ele. Uma casca vazia não é nada além de uma distração que logo se prova desnecessária. Uma bagagem enfadonha que prende o ser pelos pés, e o impede de seguir em frente.

Demonstrar? Uma palavra tão simples que trás grandes implicações. O que é demonstrar, o que é surpreender. Provas de amor, loucamente irracionais, que, como uma flecha de ponta dourada, perfura o coração dos menos frígidos. A falta de uma palavra doce, de um canto de querubim, faz dos anjos mais belos, meros mortais.

Em palavras, o amor em um relacionamento nada mais é do que isso. Um emaranhado confuso que não se faz entender. Mas de todas as suas características, essa que se torna mais importante, é aquela que poucos percebem, e buscam viver.

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