Preciso esfregar a alma. Deixar a cara para o tapa, perder tudo que tenho que perder, jogar nas palavras o emaranhado de deixas que deixei passar, o emaranhado de palavras que engoli por medo de encarar os fatos.
Deixar a dignidade e qualquer sentimento de pena por mim ou por outrem sair pela mão de quem escreve uma história do jeito errado e acredita que sairá sem a dor de se espetar.
Quando entendemos que o caminho que trilhamos é o contrário daquilo que nos leva para nossa própria luz, a dor de dar a volta por entre o emaranhado de espinhos que nos prendem é grande, e arrasta muitos corações. Mas também, a luz é diferente para cada um. O errado é mantermos nosso coração negro para a alegria de outros. Mantermos nosso corpo morno para sentir que fazemos o bem para alguém... Deixar o espírito preso para não abrir feridas que sempre estiveram ali.
É hora de aceitar o repúdio que for, deixar que se fale, que se julgue, que exploda a bomba relógio que por muito tempo esteve escondida em gestos de bondade e piedade alheia, enquanto eu mesmo esquecia do que me tornava ser vivo. Enquanto eu mesmo esquecia que antes de tudo, quem precisa ser feliz sou eu, e não quem espera o que for de mim.
Viver pela metade não é viver, amar pela metade não é amar, chorar sem lágrimas não é a verdade, e prender pelas mãos quem queremos pelo coração também não é mais certo do que vendar nossos próprios olhos e fingir que não estão ali, as trepadeiras de mentiras que contamos a nós mesmos todos os dias para acreditar que estamos fazendo tudo do jeito certo para que seja perfeito.
Tentar forçar o sorriso na face de outrem, tentar forçar aquilo que não existe, forçar a nós mesmos a acreditarmos que tudo está bem quando só estamos sufocando nas amarras de nossa ilusão... As intenções podem ser boas, mas não é assim que encontramos nossa felicidade. Não é assim que merecemos nossa felicidade. Ninguém merece não ser amado de igual para igual, ninguém merece não ser único aos olhos de quem ama, e pior que isso, ninguém merece saber de tudo isso e mesmo assim esquecer de si mesmo para viver no encantamento da tentativa.
Hora de abraçar os espinhos, de perdoar a mim mesmo e aceitar que não foi por mal. Hora de dizer o que deve ser dito, de libertar quem merece o melhor de alguém, e que eu não pude dar. Hora de aceitar que nem todas as tentativas dão certo, que a gente foi feliz, mas que um amor não vive de favores... Talvez viva, mas eu sou mais confuso que isso, sou mais intenso que isso, e não consigo aceitar nada senão a loucura de doer de sentimento demais...
É hora de sermos verdadeiros, pois se existe algo, é a admiração por um coração de ouro, que não merece a omissão do amor.