domingo, 16 de abril de 2017

Eu nunca quis ficar (11/06/2014)



Eu nunca quis ficar.

Até então, eu sempre havia sido uma pessoa que acreditava encontrar na estrada e na inconstância da mudança um lar, um aconchego e uma identidade da qual me orgulhava em hastear bandeira. Sempre havia considerado minha arte o único propulsor para sonhos, para meus objetivos e minhas metas.

Então me desfiz. Me desfizeram. Me desfez. Não foi preciso mais que um olá, uma noite, um olhar, para eu vir abaixo com toda minha muralha de ideais e da crença de que uma vida cigana me bastaria. Já não bastava.

A gente já atravessa uns anos agora, uma história que cabe em um pequeno livro desses sem pretensões mas que guardam uma boa dose de emoção. No meu coração entravam e saiam pessoas, entravam e saiam momentos, capítulos e etapas. Aí chega alguém que entra e decide não sair... Até quando a gente faz força para que saia, né?

Nos perdemos no tempo, nos perdemos na distância, nos perdemos na memória.
Intensos, queimamos, caímos, levantamos, amadurecemos. Intensos nos despedimos e nos reencontramos por diversas vezes, até quem sabe nesse instante que nos encontramos agora.

Quem sabe o amadurecimento vem chegando? Quem sabe agora dá pra caminhar nessa linha tênue de crescer distante, juntos... Quem sabe?

Hoje os abraços podem ser livres de dor, a saudade livre para gritar ao mundo. Hoje o reencontro não precisa das despedidas, hoje os sorrisos podem ser teus, e meus. Hoje pode não ser tudo como queremos, mas hoje também sabemos que um dia pode vir a ser, caminhando, construindo.

Se estrada antes era lar, hoje é caminho para chegar a ti.
Se a arte antes era a vida, hoje é com ela que quero construir uma vida.
Se o sonho antes era voar, hoje sonho em poder pousar onde bem quiser.

Acreditando na crença de nosso querer, sorrio, sabendo que ao meu lado está pousado exatamente quem um dia povoava só meus pensamentos, e as mais doces lembranças.
Eu nunca quis ficar.

Hoje eu quero.

(11/06/2014)

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Locomotiva



Minha locomotiva frenética chia nos trilhos sem parar.

Vagões estremecidos sem a noção básica de que todo o destino pode ser parada final.

Não quero chiar até a parada final.

Quero aproveitar a viagem.