sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Ciclos


A gente faz da vida ciclos, início meio e fim de etapas, momentos de conclusões. 

A gente coloca na vida nossas vírgulas e pontos sempre que sentimos um novo momento de reflexão.

O que seria dela sem escrever nossa história? Que importância teria se não acreditássemos que tudo aquilo que fazemos tem um significado maior, maior que nós?

Fazemos da vida ciclos para entender melhor sua constante e as inevitáveis despedidas (as vezes de nós mesmos) que o tempo trás.

Hora do novo, de novo.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Artista solo


Ficam sequelas. de tudo que a gente para de ligar, mas liga. Ficam resquícios, de tudo que a gente deixa de dizer, mas diz.

Ficam sobras de tudo que tentamos mudar e continua a nós intrínseco.

Nem sempre é erro nosso, nem sempre falha de artista solo.

São sequelas do ser.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Amores lembrados


O que eu faço com a saudade?

Singela me toca ao final de um dia, vem com a brisa suave da noite, no canto pleno em quietude de lembranças e memórias de tempos doces. Que se faz com o coração que aperta, com o abraço que sente falta de outros tantos abraços? O que eu faço com os sorrisos que estão distantes, mas sempre tão ligados ao meu?

Ternura na alma, sopro no peito, amor lembrado...

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Ao próximo


Eu quero acreditar que basta sermos inteiros de nós mesmos para estarmos completos.

Eu acredito, nessa coisa de sentir-se pleno. Acredito que a felicidade bate à nossa porta na medida em que depositamos de nós mesmos em algo no mundo. Fazer a diferença nos faz diferentes.

Quero acreditar também que sou capaz de ser diferença na vida de quem ainda não chegou lá... Quem ainda não encontrou em si o propósito que impulsiona, que faz da gente nossa própria essência e não um mero reflexo de vontades e desejos de coisas que nos cercam. Quem ainda andarilha em torno de si mesmo sem saber ao certo o seu porquê... Quem se torna cego com coisas menos importantes que o grande maior, simplesmente por não saber o próximo caminho.

Quero acreditar que mesmo incompletos, podemos fazer novos inteiros.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Gente presente


Tem gente tão presente na gente, que mesmo em outro caminho, parece aqui.

Obrigado por tantas presenças em mim.

domingo, 12 de junho de 2016

Pássaros



A história é sobre pássaros.

Sobre seus pousos e voos,

sobre o canto diferente de cada um.

É sobre cores únicas,

patas em solo e asas nas alturas.

A história é sobre pássaros,

mas poderia ser nossa.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Seu lugar comum


Ele brinca por aí.

E mesmo que nem sempre o ritmo seja alegre, ele tenta, ele dança.

Poetiza em si o que não consegue poetizar do mundo.

Coloca nos lábios toda a alegria e as dores profundas do peito.

Ele brinca por aí,

fazendo de todo o lugar seu quintal.

domingo, 22 de maio de 2016

Efêmero


Provável ser efêmero,

não se vá.

Faça um coração a mais crer que pode, que é pra ser.

Provável ser efêmero,

não se vá.

Faça o dia mais bonito, que é pra não chover.

Provável ser efêmero,

não se vá.

só,

fique.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Represa


Já escrevi mais,

já acreditei mais, também.

Acho que a proporção de palavras que guardo no peito sem proferir é igual a quantidade de mar que represo dentro do meu coração.

Acredito mais, escrevo mais.

Me contenho,

não escrevo.

Devo deixar explodir.

Devo deixar correr água, deixar minha imensidão torrencial ser tão à flor de minha pele sempre tão viva quanto o foi.

Devo escrever mais,

devo acreditar mais, também.

A orquestra noturna



As luzes da cidade brilhavam em seus diversos tons. O amarelo das lamparinas, o vermelho de alguns letreiros ao longe. O azul da noite. A neve caia lentamente, cobrindo, aos poucos, o chão judiado pelo tempo.

            E estavam ali, os dois. Do alto daquele prédio abandonado, podiam ver a cidade inteira brilhando na escuridão. Como nos velhos tempos.

- As luzes... Elas ainda são as mesmas. – Disse a garota, admirando o horizonte. Sabia que todos aqueles anos mudaram completamente a alma dos dois. Sabia que as coisas já não funcionavam como antigamente. Mas também sabia que aquelas luzes ainda estavam lá, assim como estariam, daqui a muitos anos.

- São, não é? – Responde ele.

- Sabe... – Ela olha para o rosto do amigo, que, como o espírito de ambos, guardava marcas de um tempo distante, que só eles conheciam. Ela sabia o que ela tinha passado, e ele sabia o que ele tinha passado. Aquela conexão que unia um ao outro não existia mais. Ele era um, e ela, outra. – O tempo passou.

- Eu lembro, dele passando. Acho que é mais fácil lembrar as coisas distantes, quando as cores tinham outros significados.

- Os significados mudaram? – Pergunta ela.

- Não. – responde o jovem, sabendo que os anos podiam distorcer até mesmo a maneira com que entendiam um ao outro. – Nós mudamos. – diz, por fim.

- Mudamos, né?

- Mudamos.

O silêncio se estabeleceu mais uma vez. Eles estavam sentados na beirada do concreto envelhecido. Como nos anos dourados, estar ali era brincar de ser invencível, de estar acima do perigo da morte, de todas as coisas que poderiam machucar-lhes. Erguendo uma das mãos, a garota pegou um pequeno floco de neve que caia. Não esperou muito para ele desaparecer no calor de sua pele.

- A neve também não mudou. – Diz, enquanto lembrava das conversas que tinham no passado. Naquela época, a neve parecia significar muito mais do que era hoje.

- É, ela também é a mesma.

- Será? – Pergunta a menina.

- Ou não. Não sei se somos capazes de mudar aquilo que está à nossa volta. – Ele olha para ela. Não só ele havia mudado fisicamente, como ela também parecia outra pessoa. O mundo destroçou aquela imaginação fértil, aquele sorriso que sempre foi mais forte que qualquer dor insuportável. Ou talvez não, talvez ela também fosse tão diferente, que ele não saberia mais dizer se aquelas marcas eram de alguém que havia perdido a esperança.

- Você desistiu?

- Desisti de quê?

- De acreditar.

Por alguns instantes, ele achou que a resposta não viria, que ali seria o fim definitivo daquele laço. Ele não sabia se devia se importar com um fim, não sabia se seria doloroso, ou se seria apenas como antes. Uma nova fase, com novos capítulos.

- Não, eu não desisti. – Respondeu ela, contrariando os pensamentos do rapaz.

A neve caia mais rápido agora. O vento era perceptível, e mais uma vez, era perigoso estar ali, no alto do prédio esquecido no tempo. Era necessário estarem naquele lugar, para perceberem que tudo teve um significado, mesmo que hoje este não importasse mais.

- Sabe, as cores... Eu ainda acredito nelas. – Diz o rapaz, ficando em pé. O perigo era maior, e poderia escorregar a qualquer momento para a escuridão lá embaixo.

- Sim. Mas ainda assim os significados mudaram.

- É. – ele diz. – Mas talvez isso não seja ruim.

Ela se levanta, de modo a ficar em pé, admirando o horizonte, como ele. As luzes distantes davam a estranha impressão de voltar ao passado. Por isso estavam ali, para entender tudo que mudou.

- Agora começo a entender que não é ruim. Nós mudamos, os caminhos mudaram. Você não é mais você.

- Você também não é mais você.

- Estamos tão diferente... Como isso aconteceu?

- Os caminhos... Eles escolheram nos separar.

- Seria esse um motivo de tristeza?

- Talvez não.

- O que quer dizer?

- Nos conhecemos, isso já não vale?

- Vale?

- Tivemos a chance de entender um ao outro como poucos têm a chance de entender. Tivemos nossos momentos de lágrimas, nossas alegrias, nossos sonhos partilhados. Algumas pessoas passam a vida inteira sem entender o verdadeiro significado de sentir.

- Mas do que vale isso, se um dia acaba?

- Um dia tudo acaba. Mas você não fica feliz por tudo que passou? Não fica feliz pelas coisas que mudaram, e por ter percebido que existe uma vida além daquilo que nós acreditamos?

- E os sentimentos eternos? Nós acreditávamos neles.

- Eles sempre existiram.

- E agora não mais?

- Talvez tenham mudado também.

- Ou seja, sumiram.

- Não, só mudaram.

O vento se tornou mais forte, a neve que batia na pele aquecida provocava sensações mágicas que só a natureza era capaz de proporcionar. Naquele momento, nunca estiveram tão sozinhos, e tão cheios de esperança.

- A liberdade mudou.

- Então tinha chegado a hora, de crescermos.

- Não sei. Você ainda vê?

- Eu tento, não sei mais se consigo.

- Não esqueça de como é, ver o mundo com a magia que foi proporcionada a nós.

- Você ainda acredita em magia?

- Da vida? Claro.

- O tempo esfriou meu coração. Acho que não consigo voltar atrás.

- Não, você não está fria. Só não lembra de como é crescer, e ter a certeza de que essas memórias são o que nos leva para frente.

Ao longe, os sons de uma orquestra podiam ser ouvidos, apenas por eles. A orquestra de seus corações indicava que ali teriam mais um Adeus. Agora, se encaravam, lendo as mudanças nos olhos do amigo. Era mais uma vez, a certeza de que estariam juntos, mesmo que nunca mais voltassem a encontrar um ao outro. Não sabem ao certo quanto tempo durou aquele momento, até que, sem dizer uma palavra, foram em direção as escadas em ruínas que os levaria para a rua lá embaixo.

Antes de cada um seguir seu rumo, olharam para o amigo mais uma vez, e não conseguiram esconder os sorrisos, de quem tem a certeza de que, em algum lugar, tem alguém com quem contar.


...

(Texto encontrado em um HD antigo e distante de anos passados perdidos no tempo)