Definir o que sobra de um
relacionamento após seu término, e o que é aproveitável ou não ali, vai ser
sempre um mistério para mim. Um relacionamento parte do amor, do interesse
entre duas pessoas dispostas a pensar em um futuro, pelo menos é isso que me disseram.
Descobri que também existem relacionamentos que existem por existir,
relacionamentos que existem para nos fazer crescer, relacionamentos que são
para sempre... E a grande parte dos relacionamentos, que são para sempre até
chegar ao fim. O que sobra?
O que acontece com todos os
planos, com todas as expectativas? Quem foi que inventou essa regra de que o
“clima” que paira entre duas pessoas que um dia estiveram juntas fica estranho,
intragável, insuportável? O que aconteceu com toda a harmonia entre duas
pessoas que um dia se conheceram tão bem sentimentalmente e carnalmente? De
íntimos, passamos a ser meros conhecidos com histórias borradas, cicatrizes mal
cauterizadas... As fotos são deletadas ou guardadas em algum lugar escuro, os
presentes na estante tem histórias mudadas, origens embaralhadas de modo que
não lembrem mais seus reais propósitos. Afinal, quando o relacionamento chegou
realmente ao fim? Quando o casal termina
uma temporada juntos? Acho que aquele clima após também deveria ser considerado
parte do relacionamento. O desapego.
O desapego é aquele momento
estranho, e ainda mais estranho quando o convívio ainda permanece constante. É
mais fácil quando existe raiva, ódio, e quase insuportável quando quase não há
mágoa. Nesse segundo tipo vêm as dúvidas: Será que realmente não era o certo?
Será que não existe uma chance? Será? Será?
Defina intensidade de amor. Não
houve amor o suficiente? Houve amor demais? O que realmente deu errado? Porque
o coração não bateu mais rápido na hora certa? Em que momento o caminho
trilhado se tornou dois, e o mundo já não fez mais sentido daquela maneira? E
as alianças? E as noites de amor? E a futura casa? Os futuros filhos? Coitados,
não vão existir. Não daquele jeito.
Deve existir algum lugar para
onde vão todas aquelas coisas planejadas, todos os sonhos a dois, todas as
expectativas de um casal no momento em que tudo termina. Será que depois,
conseguirão aquelas duas pessoas, antes tão uma, partilhar de um momento a sós
sem uma cachoeira de lembranças, sem as perguntas que nunca vão ser
respondidas? Sem tantos “serás”?
O que sobra de um relacionamento
que chega ao fim?
. . .
Retirado do fundo da pasta de 2013, escrito em algum momento próximo a março.